Desenvolvimento da
Motricidade e da Habilidade Motora
Na cultura ocidental, numerosas crianças
engatinham antes de começarem a andar, mas a capacidade para engatinhar não é
uma condição indispensável para a aquisição da marcha; as variações em direção
à deambulação incluem o uso do andador e o hábito de locomover-se escorregando.
O engatinhamento é um ato biomecânico, muito diferente da marcha, no que se
refere a função muscular, particularmente no que diz respeito aos ajustes
posturais, visto que a base de apoio compreende vários segmentos do corpo.
Não obstante,
foram impostas na clínica restrições arbitrárias ao desenvolvimento locomotor,
por exemplo, com base em pressupostos tais como a idéia de que o lactente
deficiente precisa atravessar uma certa sequência em posição ventral,
progredindo em sentido craniocaudal e próximo-distal, antes de tentar a
posição de pé. Há mesmo quem sugira que
essa sequência engyada constitui a condição indispensável para o
desenvolvimento das funções corticais superiores tal como a leitura, por
exemplo. Essa opinião, segundo a qual a sequência em si seria indispensável,
pode fazer com que se negue ao lactente portador de deficiência a oportunidade
de experimentar a posição ereta sentada e a posição bípede.
Assim,
por exemplo, prevaleceu durante muito tempo na literatura fisioterápica (e em
outras também) a opinião segundo a qual a extensão de cabeça e tronco em
decúbito ventral precisa preceder a posição em pé ou que o ato de engatinhar
precisa vir antes da deambulação, ou a posição sentada no chão antes de a
criança sentar na cadeira. No entanto a falta de fundamento lógico e a falta de
semelhança entre os elementos biomecânicos de duas ações, tais como a ereção da
cabeça em decúbito ventral e na posição bípede, por exemplo, já deveriam por si
só levar o fisioterapeuta a abandonar esse ponto de vista. Na vida real, a
sustentação da cabeça, ao lado do controle da visão, estabelece-se
provavelmente quando a criança é carregada, mantida em posição sentada, apoiada
na posição em pé ou levada a caminhar pela mão dos pais.
A
maturação do SNC deve ser considerada como fator de importância crítica, mas a
percepção, a cognição, a experiência e o ambiente também são fatores
determinantes.
Comportamento em
Decúbito ventral
Quando colocado em decúbito ventral, o
lactente começa cedo (pouco tempo após o nascimento) a levantar a cabeça, num
ato protetor de desvio da cabeça que se destina a manter livres a boca e o
nariz. Entretanto, o lactente apresenta melhor capacidade para levantar a
cabeça quando mantido de encontro ao ombro da mãe ou do pai do que em decúbito
ventral, demonstrando que, mesmo nessa tenra idade, o movimento se torna mais
fácil diante de condições mecânicas ideais. O lactente que passa algum tempo
exercitando-se em decúbito ventral desenvolve a força dos músculos extensores:
a capacidade para a extensão d cabeça e tronco se desenvolve mais rapidamente.
Dentro de poucas semanas ele é capaz de ativar os extensores do pescoço e da
porção superior do tronco com força suficiente para poder erguer a cabeça e
olhar em sua volta.passadas mais algumas semanas, ele consegue levantar a
cabeça e os ombros, apoiando-se sobre as mãos e os antebraços. Aos 5 meses,
esse lactente será capaz de levantar a cabeça, ombros e pernas simultaneamente
sobre a base de apoio, balançando-se para trás e para diante nessa posição.
Nessa época, ele procura agarrar objetos durante o decúbito ventral, além de
desenvolver a capacidade para o deslocamento lateral de sua massa corporal.
Comportamento em
Decúbito Dorsal
Inicialmente,
a cabeça do recém-nascido normal pode não acompanhar o movimento quando ele é
levantado do decúbito dorsal para a posição sentada. Por outro lado, quando se
abaixa a criança da posição sentada para o decúbito dorsal, os flexores do
pescoço se revelam às vezes capazes de contrair-se e de manter esta contração
durante boa parte do movimento. Alguns lactentes apresentam nesta situação um
nítido atraso da cabeça. Isso pode ser devido à disfunção do SNC, mas também
pode ser consequência de um parto prolongado, durante o qual a mãe recebeu medicamentos
capazes de deprimir o SNC do feto. Durante os primeiros 4 meses de vida, a
força dos músculos abdominais e da nuca aumenta; o controle da cabeça em
posição mediana parece ser progressivamente favorecido pela visão. A partir dos
5 meses, desde que um adulto lhe estenda as mãos para ajudar o lactente a
sentar-se, este ativará os flexores do pescoço e do tronco em antecipação; aos
6 meses é capaz de levantar a cabeça espontaneamente. É bem provável que o
lactente, se receber muita oportunidade para permanecer em posição ereta,
desenvolve maior força e controle na musculatura do pescoço, em comparação aos
lactentes que permanecem sempre em decúbito.
Referências:
SHEPERD, Roberta B., Fisioterapia em Pediatria, 3º edição, editora Santos.
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